Estava ela jogada No canto do banco Seus olhos marejados, Em prantos, Eu vi, nesta tarde, Deitada; Estava amuada, no canto Do prédio da agência de um banco Jogada As dores talvez a tomavam... E eu fiz um retrato do pranto Coitada; Estava ela no canto Deitada No banco, ao lado da igreja, Na entrada, Pensei em ajudá-la, Mas nada, Deixei-a sozinha, às 18 badaladas, A frágil cadela e o seu pranto.
Mundo Literato
Sintam-se à vontade...
sábado, 20 de fevereiro de 2016
Por fim
Esperei janeiro
Dezembro, setembro, fevereiro
O fim,
Mas não veio,
Esperneio!
Criança levada sem brinquedo
No chão, sem receio,
No chão;
Os dedos latejam
Comuns não se beijam
Não...
Os cantos roídos
Das unhas estreitas
A pele arrancada
Estupidez em vão;
Esperei todo dia
O fim, mas não veio,
Não...
Sorrio, enfim,
Pois graças a isso,
Por fim,
Liberta estou desta prisão.
sábado, 19 de dezembro de 2015
Carrapato não tem pai
![]() |
mural de Diego Rivera |
- Ai ai ai, carrapato não tem pai
Diziam aos hijos de la chingada
Que brincavam no terreiro
Os donos dos carrapatos
Os donos do pedaço
Queriam extingui-los
Do meio, daquele espaço
Ai ai ai, carrapato não tem pai
Mataram os carrapatos
Com uma bola de bilhar
Que brincavam no terreiro
Os donos dos carrapatos
Os donos do pedaço
Queriam extingui-los
Do meio, daquele espaço
Ai ai ai, carrapato não tem pai
Mataram os carrapatos
Com uma bola de bilhar
Ps: Hijo de la chingada é uma expressão mexicana que traz uma carga simbólica devido ao seu contexto histórico. Os "hijos de la chingada", segundo Octavio Paz, são aqueles filhos de mulheres que foram estupradas/violentadas. O autor explica o porquê dessa expressão no México: ela faz referência ao "estupro" histórico, cultural e ideológico que a civilização nativa dessa pátria sofreu. Voltando um pouco no tempo, em meados de 1521, com a sua tecnologia militar os espanhóis derrotaram os astecas, visando tomar o território do México. Nesse período, a Espanha contou com a vantagem do enfraquecimento da força de combate indígena, após à morte desses nativos em decorrência de doenças do Velho Mundo levadas pelos espanhóis (principalmente a varíola). Após esse episódio de "conquista", os homens espanhóis passaram a "tomar para si" as mulheres companheiras dos indígenas, violentando-as. O ato de estupro muitas vezes resultava no nascimento de crianças. Assim, os mestiços mexicanos eram considerados “hijos de la chingada” e é essa ideia que trago no poema. Já a imagem que utilizei é uma reprodução do mural "La historia de México: de la conquista al futuro", pintado entre 1929 e 1935 pelo Diego Rivera.
Tamires de Lima
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Um peso
Um peso eu carrego
De dia, de noite,
Em outros hemisférios
Aqui, acolá
E eu espero um dia,
Deveras,
Não mais carregar
Um peso insano
Carrego
Aqui, acolá, sei lá
Então ando devagar
Abro as portas
De mansinho
- Que linda a luz do luar!
Divago, espero, me canso
Me canso de esperar
Que a luz do luar
Esplêndida que brilha
Tire o peso que brota
Nesse peito que carrega
O desejo de gritar
Tamires de Lima
domingo, 30 de agosto de 2015
Fita
Pessoas reunidas e não unidas
- Caminhos de flores -
Que sobem pra buscar margaridas
Sem cores
Pessoas benditas
Com suas aldeias restritas
Enquanto a carne grita
É só sangue e vela nas palafitas
Fita, a pele no arame se extirpa
- Taca fogo e se esquiva!
Espelha as mandrágoras em foice
Espremidas...
Nesse véu de flashes que banham a noite
Procuro aos prantos o relógio da torre
A memória interna está escondida
Tamires de Lima
domingo, 7 de junho de 2015
Auras Enquadradas
Um rio forte e não comportado
E um corpo quente e ornamentado
Como uma espécie de santuário
Que eu abraço e faço preces
A grande lua vejo ao seu lado
Nas mãos geladas o sutil afago
São borboletas que se abalam
Se quebra a fala, então concerte
Respiração firme e compassada
Sorrindo a face bem espelhada
O vento sopra e as águas falam
De um assunto que tu conheces
Com as estrelas já recolhidas
A tela mostra em cores vivas
Bem enquadrado em tais medidas
Tocar de aura que permanece.
Tamires de Lima
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Máquina de des(construção)
O tempo desbota ardores
Que antes riam de graça
Em sua paleta de cores
Só vejo o tempo que passa
O tempo desloca sabores
Faxina a cabine escassa
E o tempo tão pervertido
Devora flores e falácias
Eu hoje vivo num tempo
Que o tempo nem mais disfarça
Pois conforme o feto uiva
O tempo só vira fumaça.
Tamires de Lima
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