Texto e foto: Tamires de Lima
Vinte
e seis de abril de 2013. Era um dia de sol forte na tarde em que os
estudantes do curso de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) foram
visitar um Centro Cultural na cidade de Juazeiro do Norte, e lá estava eu
diante de várias estátuas do rei do baião, de Padre Cícero e de santos de todos
os tipos. Ponto de Cultura Mestre Noza era o nome grafado em letras pretas que
estava na camisa de um artista do lugar.
O
colorido dava forma às peças, e ao mesmo tempo as cores quentes deixavam o
lugar mais acolhedor. Muitas coisas interessantes havia no local, desde cordéis
com nomes inusitados até peças com detalhes de dar inveja à Da Vinci. Mas não
foi nada disso que fez os meus olhos brilharem como os olhos da Derpina ao ver
o Derpe, e sim um senhorzinho de pele escura e traços fortes.
Ele
poderia ser João, Manoel ou Joaquim... Não importa. O que realmente interessa é
que a sua luz me chamou atenção, mesmo estando no fundo daquele lugar amontoado
de imagens e esculturas. Comecei a conversar com ele. Puxei papo, pois já havia
terminado a minha entrevista para o meu trabalho. Ele me deu seu nome de
batismo e seu nome artístico. Já havia mais de vinte anos que trabalhava no
local e me confidenciou que o seu grande sonho era poder ter uma prateleira só
sua, onde ele pudesse colocar suas peças. Queria ter um lugarzinho só seu.
Seria o seu céu onde guardaria suas artes sacras, inclusive o seu anjo de
apenas uma asa.
Um
artista embebido de sonhos e de álcool. O cheiro forte exalava durante os
instantes em que conversamos. Acho que esse deve ter sido o motivo de ter ido
com a minha cara... Contou-me que uma amiga aos doze anos de idade o
influenciou a começar a produzir as peças em madeira, e o que começou como
brincadeira tornou a profissão daquele homem que perdeu pai e mãe muito cedo e
que viveu na rua durante vários anos. Não posso negar que me emocionei com o
relato. Os olhos do homem rígido, de mãos fortes e cheias de calos, foram
responsáveis pela criação de uma lágrima que desceu ao seu rosto como as águas
de uma cachoeira cristalina.
Preferiu
enxugá-las saindo do local. Sentiu-se envergonhado e pediu desculpas pelo ato.
Ele nem imagina que esta foi a ação mais nobre e pura que vi em toda a minha
visita... Eu o acompanhei e chegando próximo às suas esculturas ele me contou
que não conseguia parar enquanto não terminava uma peça.
Chegou
a hora de ir embora e fiquei com o coração apertado de deixar o João, Manoel Joaquim
sozinho. Havia sido uma boa companhia. Eu o desejei sorte em seus sonhos e agradeci
por ter sido gentil. Ele pediu para que eu voltasse e desejou que eu tivesse
êxito em minha profissão...
É
uma pena que não perguntei se ele tinha conta no facebook para podermos
conversar mais e mais virtualmente... Meu novo amigo artista ficou apenas nos
registros das minhas fotografias e da minha memória.