sábado, 19 de dezembro de 2015

Carrapato não tem pai


mural de Diego Rivera
- Ai ai ai, carrapato não tem pai
Diziam aos hijos de la chingada
Que brincavam no terreiro

Os donos dos carrapatos
Os donos do pedaço
Queriam extingui-los
Do meio, daquele espaço

Ai ai ai, carrapato não tem pai
Mataram os carrapatos
Com uma bola de bilhar

Ps: Hijo de la chingada é uma expressão mexicana que traz uma carga simbólica devido ao seu contexto histórico. Os "hijos de la chingada", segundo Octavio Paz, são aqueles filhos de mulheres que foram estupradas/violentadas. O autor explica o porquê dessa expressão no México: ela faz referência ao "estupro" histórico, cultural e ideológico que a civilização nativa dessa pátria sofreu. Voltando um pouco no tempo, em meados de 1521, com a sua tecnologia militar os espanhóis derrotaram os astecas, visando tomar o território do México. Nesse período, a Espanha contou com a vantagem do enfraquecimento da força de combate indígena, após à morte desses nativos em decorrência de doenças do Velho Mundo levadas pelos espanhóis (principalmente a varíola). Após esse episódio de "conquista", os homens espanhóis passaram a "tomar para si" as mulheres companheiras dos indígenas, violentando-as. O ato de estupro muitas vezes resultava no nascimento de crianças. Assim, os mestiços mexicanos eram considerados “hijos de la chingada” e é essa ideia que trago no poema. Já a imagem que utilizei é uma reprodução do mural "La historia de México: de la conquista al futuro", pintado entre 1929 e 1935 pelo Diego Rivera.
Tamires de Lima

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Um peso


Um peso eu carrego
De dia, de noite,
Em outros hemisférios
Aqui, acolá
E eu espero um dia,
Deveras,
Não mais carregar

Um peso insano
Carrego
Aqui, acolá, sei lá
Então ando devagar
Abro as portas
De mansinho
- Que linda a luz do luar!

Divago, espero, me canso
Me canso de esperar
Que a luz do luar
Esplêndida que brilha
Tire o peso que brota
Nesse peito que carrega
O desejo de gritar

Tamires de Lima

domingo, 30 de agosto de 2015

Fita



Pessoas reunidas e não unidas
- Caminhos de flores - 
Que sobem pra buscar margaridas
Sem cores

Pessoas benditas
Com suas aldeias restritas
Enquanto a carne grita 
É só sangue e vela nas palafitas

Fita, a pele no arame se extirpa
- Taca fogo e se esquiva!
Espelha as mandrágoras em foice
Espremidas...

Nesse véu de flashes que banham a noite
Procuro aos prantos o relógio da torre
A memória interna está escondida

Tamires de Lima

domingo, 7 de junho de 2015

Auras Enquadradas

Um rio forte e não comportado
E um corpo quente e ornamentado
Como uma espécie de santuário
Que eu abraço e faço preces

A grande lua vejo ao seu lado
Nas mãos geladas o sutil afago
São borboletas que se abalam
Se quebra a fala, então concerte

Respiração firme e compassada
Sorrindo a face bem espelhada
O vento sopra e as águas falam
De um assunto que tu conheces

Com as estrelas já recolhidas
A tela mostra em cores vivas
Bem enquadrado em tais medidas 
Tocar de aura que permanece.

Tamires de Lima

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Máquina de des(construção)



O tempo desbota ardores
Que antes riam de graça
Em sua paleta de cores
Só vejo o tempo que passa

O tempo desloca sabores
Faxina a cabine escassa
E o tempo tão pervertido
Devora flores e falácias

Eu hoje vivo num tempo
Que o tempo nem mais disfarça
Pois conforme o feto uiva
O tempo só vira fumaça. 

Tamires de Lima