quarta-feira, 17 de julho de 2013

Foda é fumar o cigarro daquele velho



Foda é você conseguir
Mascar o fumo
Do cigarro
Daquele velho
Da última cela
Aquele que todas
Todas as noites
Surge com surtos
Surge como o céu
Imenso e profundo
Sim, aquele cara
Que matou a esposa
E comeu o seu fígado
E ainda há resquícios
Do sangue
Em seus dentes estragados
Ele sorri como se
Estivesse possuído
Por todos os espíritos
Que vagam o mundo
Almas sombrias
Que arrastam
Que arrasam
Que enfileiram
Os humanos
E os transformam
Em marionetes
Dos seus desejos
Ininterruptos
Vazão de repúdios
Prelúdios estilhaçantes.

Tamires de Lima

Mazelas Humanas




Eu não faço parte
Da seleção natural
Muito menos
Da linearidade
Do mundo
Eu sou algo gritante
Sou aquela mariposa
Não camuflada
Mas que também
Não foi extinta
Não me encaixo
Em quadrados
Círculos ou retângulos
Sou o esperma
Dos antigos
Homens das cavernas
Neanderthália
Também pode ser
O meu nome
Prove das minhas vísceras
Você verá que
Sou os caprichos
Daqueles que
Comiam e bravejavam
Em montanhas azuis
Ou melhor
Beba vinho
No meu crânio vazio
Beberá o sabor
Das mazelas humanas.

Tamires de Lima

Partitura Muda




Hoje eu o li por completo
Devorei cada pedacinho
Das tuas palavras sujas...
Escarnecidas, encandecidas
Pequenos versos em partitura muda

Te levei com minhas vestes a passear
Refletindo o brilho
Dos teus sons amargos...
Corri no vento
Debrucei no espaço
Como um sol sonoro
Ascendente e frágil

Brincando em rimas
Te descobri sereno
O vi tão belo
Impenetrável e cândido
Navegando profundo em teus sonhos
Penetrei no íntimo do teu âmago

Deslizei, portanto
Modernidade líquida
Palavras aturdidas
Verdades malditas
Teu olhos meigos em minha avenida
Minha pequena alma ganhou teu encanto

Tamires de Lima

Anacronismo Cinzento



O som da sonata triste
Agora invade minha alma
Sinto que parei no tempo
Fiquei trancafiada em 1912
Naquela casa abandonada
Que você hoje passa
E só encontra as ruínas
O cheiro do seu suor
O sabor da sua boca
O toque suave das suas mãos
São acordes que são tocados
Em todas as noites
Que permaneço solitária
Nesse anacronismo cinzento.

Tamires de Lima

Eu sou um lixo



Eu sei que eu sou
Um lixo orgânico
Um vício ambulante
Um lixo mecânico
Cervejas constantes
Entorpecentes na veia
Morfina e agulha
Em dor passageira
Rasgando a pele
Causando estrago
No fim, no cansaço
Não tenho caminho
Um velho sem ninho
Um fim feio e trágico.

Tamires de Lima

domingo, 7 de julho de 2013

Cadáver da rua 34





Eu quis aquele cadáver da rua 34
Ele cheirava à rosas matinais
Sua pele gélida tinha um ar acolhedor
Eu o quis...
Eu o quis porque ele sorria
Com um ar angelical
Eu quis deitar sob o peito
Daquele cadáver da rua 34
Ele me chamava
Mesmo com os olhos 
Levemente fechados
E sabe, ele também me queria.


Tamires de Lima