sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Au revoir menina!


Menina já não dorme
A caixinha de música tocou calmamente
Uma melodia de Bach quebrada
Au revoir Shoshanna
Sou eu de olhos já abertos
No colchão cheirando à vitória
Queimando a lâmpada da luminária
E recriando sombras expressionistas
No impressionismo francês
Da minha decoração de frases aleatórias
O juvenil me invadiu e abocanhou
Cada pequeno pedaço envelhecido
Do meu templo que entrava e saía formigas
Acredite, velho de terno azul 
Antes mesmo de eu despertar
Essa derme do meu olho já não dormia
Pois uma felicidade inteira e absoluta me invadia
E eu gosto menino, eu gosto
De saltar como ovelhas de lã macia
Eu gosto de possuir coisas novas e fechadas
É um deleite quando provo esse cálice
De alegria

Tamires de Lima

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Brincando com fogo



Ontem o pai queimou a Maria Clara
Com os fogos que comprou para nós
Eram umas borboletas brilhantes
Que pintaram o céu com cores de todos os tipos
A Maria nem ligou para a queimadura
Ficou tão feliz brincando com o fogo
Que esqueceu que havia machucado a perna


Tamires de Lima

domingo, 11 de agosto de 2013

Um dia não tão normal


                                         





No banho frio o cabelo estava sendo lavado com condicionador e reidratado com shampoo. Só percebi a troca quando li os rótulos. Não importava, o jasmim perfumado já havia se espalhado em movimentos rápidos pelo meu corpo que se encontrava em chamas, mesmo com o toque dos meus próprios dedos. Cantarolei um pouco de Draconian enquanto me enxugava com uma toalha bordada em letras azuis. 

Liguei a Tv e no noticiário passava comerciais e reportagens ridículas sobre os presentes que os filhos cheios da grana iriam comprar para os seus pais. Eu pouco estava me importando com o capitalismo incinerando as datas festivas, ou muito menos com os lábios deliciosos daquela repórter gostosa que agora falava o lead de uma outra notícia, e com uma voz extremamente sexy. Se ela fosse ao menos uma profissional das forças armadas até poderia pegá-la à noite para dançar um tango em meu apartamento de quinta. 

Mudei o canal, a programação estava até mais interessante com o ritmo de festa daquele velho filho da puta do Sílvio Santos. Eu ia com a cara dele e se já fosse nascida na década de 80, e ele tivesse levado em frente o lance da presidência, teria com certeza clicado nas teclas do um e do seis. Quem sabe ele não distribuiria bolsas Jequiti para todo mundo andar cheiroso e com a pele macia. 

Estou contando tudo isso só para esquecer que estou na véspera do meu assassinato. Já sonhei duas vezes com o meu colega de classe me matando e embora sabendo que isso pode parecer uma idiotice, acredito na força das fantasias da mente humana. Quando daqui a alguns dias lerem no jornal que o meu corpo fora esfaqueado, lembrem-se ao menos de doar os meus órgãos, de entregarem a graviola que deixei em meu testamento para o meu melhor amigo, e de preservarem na memória o sonho que eu tinha de transformar o mundo, com a minha guitarra e com a minha voz rouca. 


Tamires de Lima

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Dalí, me devore!







René Magritte que me perdoe
Mas eu prefiro ser devorado por Dalí
Aqui e acolá

Os vestígios de tinta pungente
São mais fortes que firulas inocentes

Oh meu muso de grandes bigodes
Venha cá meu faceiro Dalí
Mas cuidado com as pedras de Drummond
Que sacodem a mente de Freud

Se enlouqueci feito o poetinha
Precisando de matrimônios em nove 
Condolências aos outros artistas
Só Salvador dissipado me move


Tamires de Lima